quarta-feira, julho 19

Sete da manhã

A sensação que o quarto expressou em mim era de viscosidade. Aquele ambiente enlameava meus olhos em tons de bege; das cortinas ensolaradas aos contornos de madeira que se estendiam pelos rodapés até os cantos. O padrão do desenho do papel de parede esticando-se até o teto na tentativa de roubar-lhe um lustre pequeno mas chamativo porque feito com cristais esverdeados. Qualquer um iluminava-se facilmente ali.

terça-feira, julho 11

De Escrever

Hoje eu vou falar sobre herança com meu pai. Quero a máquina de escrever.
Eu não sei o que significa computador, a palavra; mas sei o que significa máquina de escrever. É evidente. O cheiro da máquina de escrever do meu pai é cheiro de palavras nascendo.
Quando criança eu estendia dois colchonetes lado a lado num canto da sala. Colocava um banquinho de madeira a minha frente e sobre ele uma Olivetti Studio 44 verde, de metal pesado, onde prensei minhas primeiras palavras.
Não se digitava, datilografava. Mas o que nós fazíamos mesmo era "bater os textos" à máquina. As teclas eram tão pesadas quanto a máquina e nenhuma letra estava ali por estar. Um descaso, um menor esforço e a letra não aparecia na folha. E as teclas eram barulhentas mas formavam uma música pois as palavras surgiam com ritmo. Desafiar com a voz esse ritmo era cansativo. Fazia-se silêncio e respeitava-se o texto, como respeita-se o fadista em execução.
Os erros faziam parte do texto. As fitas corretivas nunca apagavam os erros sem revelar pistas de sua ausência e os parágrafos desnecessário eram deixados na folha, riscados com uma Bic e abandonados para talvez, posteriormente, mostrarem-se úteis.
Eu preciso dessa máquina.