quarta-feira, fevereiro 7

Autor

Vinte e uma horas e o relógio dourado marca nove horas dentro de uma caixa de madeira com um visor de vidro empoeirado. O relógio marca o tempo com um tiquetaque barulhento que não é alto o suficiente nem para abafar o jazz tocando ao fundo das vozes barulhentas das pessoas que estão na noite de assinaturas do novo livro de Rodolfo Paz Klava. O autor de "Alagoas" está vivenciando a idéia maçante que tinha sobre a noite de hoje: oito amigos seus rodeados por desconhecidos e aspirantes à escritores, repórteres e artistas plásticos que bebem e discorrem sobre suas relações pessoais com políticos e artistas famosos. Seu livro acaba de ser lançado após ter sido guardado sob um sistema de proteção rígido. E, mesmo que essas pessoas tivessem lido o livro, elas ainda prefeririam estar falando da vida tão reservada do autor.
Rodolfo conhece políticos e artistas famosos. Seus maiores amigos, entretanto, são os instrumentistas que não são citados entre os assuntos da noite de assinaturas por serem ainda mais reservados que o primeiro. Com eles Rodolfo compartilha o prazer das notas musicais bem tocadas. As palavras são cantadas mas para um apreciador vivaz da melodia elas ficam sempre em segundo plano. O mesmo plano em que se encontra ###, editor de "Alagoas", que — imitando sua posição na festa — não ultrapassa seus limites em qualquer conversa nessa noite e permanece ofuscado.